Escrever
Escolher um novo tipo de letra. Uma nova fisionomia no papel, para que estas novas ideias se distingam das antigas. Uma nova imagem que tenta ocultar a que fica. Torno a escrever. Perco tudo, menos as palavras. Afastei-me delas mas o reencontro deu-se. Como sempre se deu. Se não possuísse mais nada tenho a certeza que elas ficariam do meu lado. Se tudo e todos me abandonassem, sei que os meus dedos, a minha mente desperta e intacta me seriam fiéis. As letras em conjuntos lógicos, os cães de guarda da minha alma, sempre atentos, sempre acordados. À medida que o tempo passa o papel torna-se branco, cada vez mais alvo. As imperfeições desaparecem progressivamente. A minha escrita é translúcida. Tal como a minha alma ganha mais cores, assim a matiz do que digo adquire tons transparentes. Até que, um dia, inscreverei a minha voz num vidro, à chuva. Escrevo porque ainda acredito que o mundo não é um lugar vulgar. Há sempre alguém disposto a mostrar-me algo novo, disposto a surpreender-me. H...