Lisboa efervescente
Lisboa efervescente, Lisboa fervilhante, Lisboa quente de corpos e do Sol.
Este calor de Maio, estes fins de tarde que transformam a cidade num mundo de penumbra e luz, estas noites, onde vagueio, o cheiro do rio. Tudo convida ao amor, tudo pede sexo. As ruas abrem-se para os amantes, escondem-nos e protegem-nos dos olhares furtivos. E eu, fria nesta vaga amena do Estio, olho e sofro. O teu corpo ao meu lado, a tua pele, os lábios que eu queria, tudo o que nunca foi meu. Sei que o Sol te vai tisnar, sei que te tornarás ainda mais belo. E o Verão vai tornar-te apetecível e maduro, como um fruto, sumarento e delicioso. E eu só quero estar longe da tua carne, quero fugir. Quero fugir da Lisboa que me prende e me dilacera. A Lisboa onde tu a tens, onde me tiveste.
Nos Invernos da minha vida fui amada, intensamente, entre cobertores e entre quatro paredes. O meu corpo não é coisa que se mostre, é para ser tida no silêncio da vergonha. Corpo de Madalena, ajoelhada aos pés do homem. Dos homens.
O meu corpo é o corpo da discórdia, do desejo temporário, da confusão. O meu sangue cura, a minha linfa purifica. Entre as minhas pernas, a terapia masculina. A solução para a indecisão. No meu sexo, o meio caminho andado para a felicidade.
Terei sempre este, como hei-de chamar-lhe, dom. Homem com quem durmo descobre o amor. Não por mim, por outra. A certa, aquela, a que tem que ser.
Sou boa (ou má) de mais para ser verdade. Sou boa de mais para que me queiram.
A verdade é que nunca me senti bem fazendo parte de um casal. Algo falha, parece que me roubam parte da personalidade. Sinto-me reduzida ao denominador de uma equação (denominador comum), a uma peça de um puzzle que não encaixa.
Em mim, o amor não encaixa. E a paixão é evanescente.
Sei que o Sol te vai tisnar. E é por pena que me queres a teu lado. A tua consciência vai pesar até ao dia em que morreres. Eu sei disso tudo. E esse teu lado judaico-cristão, da penitência e da culpa, obriga-te a procederes daquilo que pensas ser a forma correcta. O que sabes tu sobre ser correcto? O que sei eu, do alto da minha inconsciência e paranóia? Não sei nada. Não sabemos nada.
Eu nunca soube nada e, no entanto, eu sabia sempre tudo.
Eu sei sempre tudo.
Eu sei que não me amam. Apenas me temem.
O Sol vai chegar ao meu coração e ao meu corpo. A praia, aquela praia que é o meu ser, vai acolher-me no seu regaço marítimo. Como sempre faz. Como sempre o fez. Mas, até ela foi violada pela tua presença. Até ela, manchada pela memória.
Se pudesse mudar… se pudesse mudar algo no passado, tudo ficaria igual. Excepto o momento em que te recebi na minha praia. Se pudesse, apagava todos os beijos, todas as frases banais, todas as mentiras que me disseste no leito ainda morno.
Perder-te fechou o meu coração. Mas é a mentira que me gela a alma, que me enfurece, que me corrói a esperança a um ritmo devastador.
Estou a morrer, para renascer. Outra vez. Como sempre.
Plagiando o meu amor literário, a minha Lúcia Etxebarría, terei cumprido. Como sempre.
Este calor de Maio, estes fins de tarde que transformam a cidade num mundo de penumbra e luz, estas noites, onde vagueio, o cheiro do rio. Tudo convida ao amor, tudo pede sexo. As ruas abrem-se para os amantes, escondem-nos e protegem-nos dos olhares furtivos. E eu, fria nesta vaga amena do Estio, olho e sofro. O teu corpo ao meu lado, a tua pele, os lábios que eu queria, tudo o que nunca foi meu. Sei que o Sol te vai tisnar, sei que te tornarás ainda mais belo. E o Verão vai tornar-te apetecível e maduro, como um fruto, sumarento e delicioso. E eu só quero estar longe da tua carne, quero fugir. Quero fugir da Lisboa que me prende e me dilacera. A Lisboa onde tu a tens, onde me tiveste.
Nos Invernos da minha vida fui amada, intensamente, entre cobertores e entre quatro paredes. O meu corpo não é coisa que se mostre, é para ser tida no silêncio da vergonha. Corpo de Madalena, ajoelhada aos pés do homem. Dos homens.
O meu corpo é o corpo da discórdia, do desejo temporário, da confusão. O meu sangue cura, a minha linfa purifica. Entre as minhas pernas, a terapia masculina. A solução para a indecisão. No meu sexo, o meio caminho andado para a felicidade.
Terei sempre este, como hei-de chamar-lhe, dom. Homem com quem durmo descobre o amor. Não por mim, por outra. A certa, aquela, a que tem que ser.
Sou boa (ou má) de mais para ser verdade. Sou boa de mais para que me queiram.
A verdade é que nunca me senti bem fazendo parte de um casal. Algo falha, parece que me roubam parte da personalidade. Sinto-me reduzida ao denominador de uma equação (denominador comum), a uma peça de um puzzle que não encaixa.
Em mim, o amor não encaixa. E a paixão é evanescente.
Sei que o Sol te vai tisnar. E é por pena que me queres a teu lado. A tua consciência vai pesar até ao dia em que morreres. Eu sei disso tudo. E esse teu lado judaico-cristão, da penitência e da culpa, obriga-te a procederes daquilo que pensas ser a forma correcta. O que sabes tu sobre ser correcto? O que sei eu, do alto da minha inconsciência e paranóia? Não sei nada. Não sabemos nada.
Eu nunca soube nada e, no entanto, eu sabia sempre tudo.
Eu sei sempre tudo.
Eu sei que não me amam. Apenas me temem.
O Sol vai chegar ao meu coração e ao meu corpo. A praia, aquela praia que é o meu ser, vai acolher-me no seu regaço marítimo. Como sempre faz. Como sempre o fez. Mas, até ela foi violada pela tua presença. Até ela, manchada pela memória.
Se pudesse mudar… se pudesse mudar algo no passado, tudo ficaria igual. Excepto o momento em que te recebi na minha praia. Se pudesse, apagava todos os beijos, todas as frases banais, todas as mentiras que me disseste no leito ainda morno.
Perder-te fechou o meu coração. Mas é a mentira que me gela a alma, que me enfurece, que me corrói a esperança a um ritmo devastador.
Estou a morrer, para renascer. Outra vez. Como sempre.
Plagiando o meu amor literário, a minha Lúcia Etxebarría, terei cumprido. Como sempre.
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