Niklos Feher

Morreu Niklos Fehér. Como voltar à realidade quando a televisão nos oferece a morte em directo?
Fehér prostrado no verde do estádio. O “Público” mostra uma foto do jogador, caído sobre o relvado, olhos entreabertos, vazios. A imagem é de uma beleza assustadora. Um homem cheio de vida que cai, um corpo no seu auge. O atleta entrega-se à sua arte, morre por ela. Nos instantes que sucederam o colapso, o corpo de Fehér agita-se quase imperceptivelmente. A sua alma abandona-o. Em Guimarães, a chuva fustiga os céus, a água confunde-se com as lágrimas daqueles que presenciam a queda de um anjo. Os homens também choram, o jogo de homens termina com um grito surdo de dor, de choque, de pânico.
Num segundo plano, a massa anónima manifesta-se. Alguns em silêncio, outros gritando o nome do húngaro... “Fehér!Fehér!”. A massa tem esperança, o povo acredita na ressurreição, acredita que um fôlego de vida entrará pelas narinas de Fehér, devolvendo-o ao estádio, ao futebol, a este país onde um estrangeiro trabalhava e sorria.
Fehér sorri, e o seu último olhar é dirigido ao árbitro. O juiz da partida é o seu juiz final. Aquele que tem a última palavra a dizer dentro das quatro linhas, fecha-se num silêncio perturbador de impotência. Mais uma vez, as imagens um Olegário Benquerença, que já não é juiz, apenas homem. A sua expressão, mesmo sem palavras, traduz as perguntas que nos assaltam naquele momento, perguntas que iriam ficar para sempre sem resposta.
24 anos, um anjo loiro caído sobre o relvado. A queda de um anjo, a dor dos homens. A fragilidade humana no formato digital.

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