Papel

Papel, papel, papel. Palavras. Todos os dias as mesmas palavras, os mesmos rostos, adjectivos repetidos, fórmulas gastas. As mesmas construções frásicas, o mesmo modelo de pensamento, esta estrutura, maquinaria infernal na qual, voluntariamente, me inseri, e da qual (sei) nunca mais sairei. As cores berrantes são como um maestro, um deus ex machina… e eu deixo-me canibalizar. E canibalizo. Com os olhos, com as mãos, a boca. As mãos no teclado, botões, press play, recording… Fuck! Fuck them all.

Já não quero ser diferente. Quero passar despercebida. A dor de me fazer notar é infinitamente maior do que o silêncio apaziguador da monotonia.
Deixo-me levar. Não quero nada que não seja meu. Este é o meu lugar. É isto que mereço.

Mas…
Ele. Ele, que transforma os meus dias, ele, que põe ordem, cor, luz, nesta resma de folhas rabiscadas que é o meu coração.
Amo-o… mas nunca lho direi. Só eu sei como, num insípido “gosto de ti”, digo muito mais do que é possível expressar.
Nem um “amo-te” chegaria. É muito mais, um indizível, um não-dito pintado nos grãos de areia, polvilhados na sua íris cor de mel. Um aroma indefinido que perfuma o seu corpo, tão jovem, sem o cansaço triste da mentira, dos pequenos pecados conjugais.
Não sentimos o peso do dia-a-dia e só assim funcionará.

Apaixono-me a casa minuto que passa. A cada gesto.

Em cada beijo teu deposito a minha esperança.

Comentários

Anónimo disse…
http://www.enquantohouverestradaparaandar.blogspot.com/
Anónimo disse…
Porque o amor não tem limites... devemos sempre transgredir... sempre que sentimos que temos de o fazer... e transgredir os nossos próprios limites... porque, como dizem, o céu é o limite... ou talvez não!

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