"Já não me lembrava"
"Se gosto de ti, se gostas de mim,
se isto não chega tens o mundo ao contrário"
És como aquelas canções lamechas que passam infinitas vezes na rádio. É inevitável trauteá-las.
Volta e meia, lá estás tu, exactamente no momento em que já quase me esquecia da tua existência.
Já (quase) não me lembrava de ti, das tuas feições, do toque áspero das tuas mãos. Já (quase) não sentia, já era um quase nada. Mas, a cada reencontro, a incerteza renasce. Não consigo evitar olhar-te, não consigo deixar de devorar o teu semblante, ávida dos teus olhos, da tua voz.
Não sei que desejo terrível é este que teima em não me abandonar. Se já dormi com tantos homens depois de ti, e tu com tantas mulheres... então, porquê? Porquê esta compulsão avassaladora, este desespero brando?
Dou por mim a querer falar contigo, mas nada do que digo tem conteúdo. Consigo apenas dizer-te que tenho saudades tuas. Saudades do que não foi.
É certo que não te suporto, que os nossos egos não caberiam na maior das cidades. Somos dois pavões, dois monstros, silenciosos e egoístas.
Sinto-me estúpida.
Espero que algo aconteça, algo que desencadeie uma mudança, que dê sentido à minha vida, que me faça deixar de pensar em trivialidades... num homem que passou, veloz, e me marcou... indelével, como uma cicatriz, como a própria vida e a morte, dançando uma valsa.
Tenho saudades da sinceridade. De fazer amor numa noite fria e escura, numa Lisboa fria e escura... de me perder em ti, como nunca o pude fazer.
Comentários