Eles dizem que vão!! Ai dizem, dizem!

- "Eles disseram ontem, no telejornal, que vai aumentar os impostos! Anda aqui um gajo a trabalhar para encher o cú a esses gajos! Eles é que sabem! Depois é só Mercedes, BM's e gajas boas... Eles é que se enchem de guito e um gajo aqui, a dar o litro!"
- "Eles vão mandar tropas para o Iraque e depois nós é que nos lixamos..."
- "Eles querem é mama, pensas que eu não sei? Eu já conheço os gajos!"

Soa familiar? Pois... Para o comum português (ok, não será o português, figura abstracta. É mesmo o TUGA), coabita entre nós, comuns mortais, uma entidade, um supra-sumo invisível mas omnipresente, que existe apenas para lixar a vida ao Zézinho. São "eles" ou, numa versão mais radical, "os gajos". "Eles" são os que cobram impostos, os patrões, os políticos, os administradores das empresas, os pretos, os paneleiros, as lésbicas, as mulheres independentes, o dono do café da esquina, o vendedor de pipocas, o cangalheiro, o médico, a mulher a dias, o servente ucraniano que assenta tijolos na obra lá de casa, a esposa, o parceiro do futebol, o colega que foi promovido... resumindo, toda a gente que trama a vida ao TUGA. O novo português, o TUGA, já não carrega em si o fardo do Fado, essa melancolia impulsionadora que o tornava murcho, mas empreendedor. O TUGA do século XXI, depois de uma revolução, auto-estradas, estádios de futebol, Expo 98, CEE, euros e Mourinhos é invejoso, burro, pequenino e de classe média. Tem muito mais do que alguma vez ambicionou ter. Tem casa, carro, faz férias no Brasil e come em restaurantes aos Domingos. No entanto, inveja o carro, a casa, as férias e o restaurante onde come o vizinho. Toda a gente à sua volta é suspeita de roubar, desviar, violar, tramar, trair, mentir... menos ele. O TUGA é tramado, sistematicamente, por toda a gente. E como assim o é, acha-se no direito, por vingança, de seguir os mesmos procedimentos dos gajos cuja existência apenas o é para o lixar. Então, não tem qualquer pejo em fugir aos impostos, pedir empréstimos que sabe que nunca poderá pagar, trair a mulher, escarrar para o chão, bater nos filhos, arrotar, não votar, coçar os tomates em público e vangloriar-se por ser um grande ignorante. O TUGA é um resquício de um país em ressaca de uma ditadura de 50 anos. Apesar de ter cantado o "Grândola, Vila Morena" o que ele deseja, do fundo do seu coraçãozinho, é que a Velha Senhora volte depressa e lhe tire, de vez, a pesada tarefa que é pensar por si mesmo e decidir o que é melhor para si, para a sua família, e para o seu país.
Sim, porque isto de ter orgulho em ser português só é válido sazonalmente, quando se pode usar um cachecol com as cores da bandeira e arrotar "gooooooooooolooooooo!".

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