Dor
São duas da manhã. Agora sei, de certeza, que não vais voltar. Estou deitada, na penumbra do quarto. O telemóvel, esse pequeno paralelepípedo que me conecta ao mundo, jaz na mesinha, silencioso, quieto. Aguardo aquela resposta que nunca chegará, o golpe de asa, o momento crucial, que transformaria esta estória sem história numa narração elíptica, sem fim. O meu corpo arde, febril, quero respirar, mas esta dor lancinante paralisa-me os músculos. Tudo me dói, desde a cartilagem da garganta até às articulações dos tornozelos. As lágrimas escorrem-me pelo rosto, sem que seja necessário urdir um queixume, um gemido. Apetece-me gritar mas, se o fizesse, pareceria demasiado cinematográfico. Pouco real. Como esta é a vida que todos temos, limito-me a ficar enroscada nos lençóis, transida de raiva, como um animal ferido.A história é muito simples. Tu tens outra pessoa e eu entrei, furtivamente, na tua vida. Mais, uma vez, deixei-me apanhar neste grande erro, na grande ilusão que é achar que, à ...