Gajas I

Há coisas que eu, como mulher, tenho uma certa dificuldade em entender. A sério, houve alturas em que me olhei atentamente no espelho e procurei, em vão, um pénis (ou algo do género). Simplesmente porque me sentia radicalmente diferente das minhas companheiras. Ok, ok, já sei que isto deve soar muito "independente-Alannis-Morissette-revoltada-feminista-queima-soutiens", mas é verdade. São coisas que me apoquentam!
Tendo chegado à conclusão que não existia ali nenhum penduricalho, mas "apenas" um "pipi", pus-me a pensar no que me incomodaria nos hábitos femininos considerados "normais".
- Pedir roupa emprestada: "Ai, ai, são 7 da tarde e tenho uma festa faaaaaaaaannnnntásssstica logo à noite! Olho para o armário, e de entre os 1500 pares de calças, 500 saias e 900 tops não consigo encontrar naaaaaaaaadaaaaaaaa para vestir!! (suspiro)!" Soa familiar? Pois... A maior parte das minhas "irmãs", não sendo particularmente abonadas, não vão sair de casa àquela hora e comprar um modelito... porque já gastaram o dinheiro mensal reservado a produtos de primeira necessidade (=roupa) noutros modelitos. Solução? Telefonar à amiga do peito e pedir emprestado aquele "top giríiiiissiiiimoooooooo" ou aquela "clutch de fazer inveja a toda a gente". Sim, porque uma mala ou um top vão fazer toda a diferença naquela festa onde vão estar as MESMAS pessoas de sempre, a fazer as MESMAS coisas de sempre! Já para não falar do facto que é, no mínimo, pouco higiénico usar a roupa dos outros. Bem, no que toca a acessórios já não será assim... a não ser que tenhamos o azar de descobrir uma embalagem de preservativos usada ou um pedaço de papel com o telemóvel de algum moço (engenheiro, bancário ou aspirante a engravatado... os do costumes n'Aquelas festas), perdidos na Louis Vuiton (fake) emprestada.
- Auto-complacência em público: Há diversos tópicos de conversa que me fazem adormecer quase instantaneamente: finanças, carros e crochet. ah! E defeitos físicos. Pá, é assim. Quando eu olho ao espelho, nem sempre gosto do que vejo (tem dias). Como toda a gente, tenho as minhas inseguranças. Mas será que é preciso, será MESMO necessário fazer uma via-sacra disso? Imagine-se que estou com uma amiga minha na praia, ou em trajes menores. Ela diz qualquer coisa como "ai, tenho a barriga tão inchada" ou "estou mais gorda" (o clássico) ou ainda "tenho de comprar um anti-celulite"... não sei como reagir. A sério que não sei. Já tentei a abordagem simpática,com o politicamente correcto "pois...", mas noto que isso alimenta ainda mais o tópico de discussão, fazendo-as discorrer sobre o defeito físico durante um bom par de horas. Em dias menos favoráveis, já respondi "por acaso, estás mais gorda. E já agora, essas calças ficam-te horríveis e o teu cabelo parece um espanador" mas, não sei porquê, não deu muito bom resultado. Sejamos honestos. Se eu quero saber se estou ou nao mais gorda, das duas uma: ou peso-me ou meço-me! A não ser que eu consiga calcular o peso de pessoas e objectos a olho nú (o que não deixa de ser uma interessante habilidade), tenho sérias dúvidas de ter qualquer contributo importante para o seguimento da conversa. Algumas ideias interessantes para resolver esta questão: a criação de um espelho falante que respondesse a estas perguntas com frases do género "Não querida, estás linda" ou "O que interessa é a beleza interior"; cartões de penalização por excesso de queixumes complacentes. Uma frase, cartão amarelo, duas frases, acumulação de amarelos e vermelho. Prostrar-se em frente a uma montra e apalpar as gordurinhas, vermelho directo com suspensão por 2 jogos.
- Palavras queridas e diminutivos: Já dei comigo a pensar se me faltaria no código genético o elemento que confere sensibilidade e ternura. Mas, caramba, eu comovo-me com as tragédias do dia-a-dia, chorei na "Lista de Schindler" e adoro animais. Mas, quando ouço expressões como "o meu namorado é fofinho" ou "é um bebezinho queridinho", ou ainda "és uma lindinha, minha queridinha", tenho uma reacção semelhante a urticária. Fico com a respiração acelerada, falta-me o ar e o meu estômago contorce-se. Há qualquer coisa de muito acertado e lógico em termos todos um nome diferente. Aquele que vem escrito no BI, esse mesmo. Grande invenção da humanidade! Imagine-se a confusão que seria se, de um dia para o outro, começassemos a ser conhecidos pelos nomes "queridos" que nos dão. Seria uma grande confusão! E os registos civis, como iriam sair desta alhada? Ah, e ninguém me tira da cabeça (isto agora de uma perspectiva psicologia-do-pataco) que, quem trata o cônjuge por "bebé", "fofucho" ou "bichinho" quer reduzir o dito cujo a uma condição infantil e descaracterizada, desresponsabilizando-o e tornando-o "dominável". Para além de ser muito mais prático tratar o parceiro por "queriducho", especialmente quando se fazem trocas frequentes...
Prometo voltar, em ocasião oportuna, com mais apontamentos do género. Penso que, por ora, estes chegam. Não quero que me acusem de misoginia...

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Eles... e eu

...E um para pensar