24 horas de pé. O cansaço havia de fazer os seus efeitos. A combinação-cliché: Bairro e Lux. Mais urbano, decadente, pós-moderno e chique não podia ser. E, no entanto, no desencanto do desamor da cidade, descubro um novo motivo para viver. O inesperado juntou-nos à mesa, entre discussões sobre política e cálices de Porto. Bebia compulsivamente e falava em tom arrogante como se, do alto dos seus poucos anos, fosse dono da verdade e se dignasse a partilhar uma pequena parte da sua sabedoria connosco, pobres mortais. Um miúdo. Ao seu lado, senti-me infinitamente velha e cansada. Olhando-me no reflexo dos espelhos, via as rugas que me marcavam o contorno dos lábios, os meus olhos cépticos, cinzentos, de um verde nocturno. E ele, mesmo ali ao meu lado, apolíneo e fresco, bronzeado. Falava de viagens. Falava, falávamos e não dizíamos nada. Típico... já se está a ver no que é que isto vai dar... Um nome conhecido faz os seus passes de mágica no altar. Prostramo-nos em seu redor, fazendo vénia...