A morte do Homem
A morte do Homem. O último dos comunistas. O último dos políticos.
Cunhal morreu amargurado. Outra coisa não seria possível. Como pode alguém morrer em paz quando sempre soube, no seu íntimo, que o seu rumo era inconcretizável?
O comunismo português como projecto nunca passou da ilusão, da utopia. Mais grave foram os resultados dos regimes que a doutrina de Marx, Engels e Lenine (erradamente interpretadas) fabricou ao longo do século passado.
Milhões, como Álvaro, morreram por esta causa maldita. Por ela ou contra ela.
Qual é a magia? Que encanto religioso encerra a bandeira vermelha, com a foice e o martelo estampadas?
De Cunhal sei muito pouco. Sobretudo memórias visuais, dos seus últimos anos à frente do PCP. A caricatura daquele homem, de sobrancelhas fartas, olhar ameaçador e discurso impertinente marcaram a minha infância e dela apenas recordo ecos televisivos. As suas intervenções intermináveis nas festas do Avante, o ódio contido e reverencial que os mais velhos (saudosistas da palmatória de Salazar) sempre tiveram do “velho comunista” e fizeram questão de passar às novas gerações. Só mais tarde, quando me filiei na JCP, vim a descobrir um bocadinho do percurso deste homem.
Como seria possível odiar Cunhal? A sua vida, a sua obra, o seu percurso são muito mais do que o sonho e a queda do comunismo. Ele é mais do que a corporização da distopia.
Ele é o humanismo, a luta, uma ética que já não há. Ele percorreu quase cem anos no sentido contrário da História. As causas tornaram-se obsoletas, a política passou a ocupar as margens do dia-a-dia, os 50 anos de ditadura (ainda estão mornos!) são empacotados em dois capítulos nos manuais de História. Falar de ideais é transgredir a ordem normal da vida, do consumo, da cegueira provocada por…sobretudo pela nossa apatia.
Ele, teimosamente, resistiu. E vai continuar a lembrar-nos que é possível ser-se de outra forma. É possível a justiça.
Hoje, da Avenida da Liberdade até ao Alto de S. João, o povo saiu à rua para celebrar o camarada, o Homem. E para lembrar que a luta continua…
Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar…
Cunhal morreu amargurado. Outra coisa não seria possível. Como pode alguém morrer em paz quando sempre soube, no seu íntimo, que o seu rumo era inconcretizável?
O comunismo português como projecto nunca passou da ilusão, da utopia. Mais grave foram os resultados dos regimes que a doutrina de Marx, Engels e Lenine (erradamente interpretadas) fabricou ao longo do século passado.
Milhões, como Álvaro, morreram por esta causa maldita. Por ela ou contra ela.
Qual é a magia? Que encanto religioso encerra a bandeira vermelha, com a foice e o martelo estampadas?
De Cunhal sei muito pouco. Sobretudo memórias visuais, dos seus últimos anos à frente do PCP. A caricatura daquele homem, de sobrancelhas fartas, olhar ameaçador e discurso impertinente marcaram a minha infância e dela apenas recordo ecos televisivos. As suas intervenções intermináveis nas festas do Avante, o ódio contido e reverencial que os mais velhos (saudosistas da palmatória de Salazar) sempre tiveram do “velho comunista” e fizeram questão de passar às novas gerações. Só mais tarde, quando me filiei na JCP, vim a descobrir um bocadinho do percurso deste homem.
Como seria possível odiar Cunhal? A sua vida, a sua obra, o seu percurso são muito mais do que o sonho e a queda do comunismo. Ele é mais do que a corporização da distopia.
Ele é o humanismo, a luta, uma ética que já não há. Ele percorreu quase cem anos no sentido contrário da História. As causas tornaram-se obsoletas, a política passou a ocupar as margens do dia-a-dia, os 50 anos de ditadura (ainda estão mornos!) são empacotados em dois capítulos nos manuais de História. Falar de ideais é transgredir a ordem normal da vida, do consumo, da cegueira provocada por…sobretudo pela nossa apatia.
Ele, teimosamente, resistiu. E vai continuar a lembrar-nos que é possível ser-se de outra forma. É possível a justiça.
Hoje, da Avenida da Liberdade até ao Alto de S. João, o povo saiu à rua para celebrar o camarada, o Homem. E para lembrar que a luta continua…
Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar…
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