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A mostrar mensagens de maio, 2005

Um homem normal (continuação)

As luzes estroboscópicas quase o cegaram, tal era a intensidade do aparato luminoso do sítio. Após o branco inicial, começou a distinguir os contornos do espaço. Havia muita gente, muitos corpos apinhados, com muito pouca roupa. A casa era realmente bem frequentada! Na pista bamboleavam jovens de aspecto felino, cabelos cuidadosamente penteados, alisados à força de ferros estilizadores e o último grito em produtos de estética capilar. Tinham todo o ar de modelos, manequins… ou prostitutas de luxo. Tanto lhe fazia, ia dar ao mesmo. De qualquer maneira, aquelas gatinhas esquálidas não lhe diziam muito. Quer dizer, não se importava de levar uma delas para casa, para provar, pelo menos uma vez na vida, aquela (pouca) carne de marca, aquelas pernas compridas e aqueles pescoços de gazela. Mas não. Aquele tipo de mulher não lhe inspirava confiança. Guiado pelo sabedor amigo, que o conduzia aconchegado debaixo do seu braço musculado, foi-se aproximando do bar. O monólito de aço inoxidável e vi...
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Dias assim 

Dias assim

Vi o rubro das papoilas, pixelizadas pelo amor dos teus dedos. Há pouco, olhei-me no espelho e encontrei-me. A seguir, encontrei o que julgava perdido. A atenção, os meus amigos, as cores nas ruas, o sol na janela, a profundidade de outros olhos. Já me julgava perdida no espelho! Enquanto o café fumega na chávena familiar, percorro as linhas da tua voz e leio-te no corpo plano, no plasma que nos separa. Admirável ventura, este cabo coaxial, esta fibra óptica, que te traz até mim e te entranha nas minhas fibras, na minha roupa, no meu músculo, no suor da minha carne, na leveza da minha alma. E sinto paz. Há tanto por fazer, tanto por estudar, o pó para limpar, a roupa por arrumar. Eu vou fazê-lo. Com calma. Já não tenho de prestar provas nem mostrar que sou melhor. Vais limpando, devagar, a minha vontade de vingança, a minha dor, o meu mal-estar. E eu vou arrumando as recordações. Devagar.
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Don´t wanna love you, just wanna fuck you 

Don't wanna love you, just wanna fuck you

Regresso a casa tarde. Já se vai tornando um mau hábito. A roupa suja transborda no cesto e espera que eu a coloque na máquina. A casa-de-banho precisa urgentemente de uma limpeza. Estou cansada. Observo o meu reflexo, os dois círculos roxos debaixo dos meus olhos. Quem me dera que eles estivessem aqui, a vincar o meu rosto, devido ao excesso de trabalho ou ao esmero doméstico. Mas não. As minhas olheiras são o mapa das tardes que passo a foder contigo. Esta sombra escura na minha pele conta as histórias do teu corpo sobre o meu, da clandestinidade das fodas que me dás. Há dias em que só me apetece ficar aí contigo, esquecer que o meu marido me espera, acostumado a que a minha presença surja, o mais tardar às 21 horas. Há tardes em que me dizes que queres mais, em que vemos o sol esconder-se atrás das colinas da cidade e, na ânsia de não nos perdermos, encontramo-nos mais uma vez. Por vezes cruzo-me com a tua mulher, no caminho para casa. Olho-a, sou uma desconhecida. Reconheço-a das p...