O rapaz do 16

Reencontrei aquele olhar ensimesmado. O dia era de sol, o autocarro estava, invariavelmente, cheio. Sentado do lado da janela, uma cara familiar. Era ele, o mesmo de há meses atrás.
Reconheci-o. Reconhecemo-nos. Sorriu vagamente e voltou a olhar para o carrossel da paisagem urbana, separada de nós pelo invólucro móbil.
Fizemos novamente o jogo do reflexo nos vidros. Duas pessoas, dispostas em triângulo com um vidro onde o sol esteja a bater, conseguem adivinhar o olhar da outra, sem que esta repare.
Mas isso nós já sabíamos...
Reparei nas mãos, brancas e pequenas, nos lábios finos, no cabelo castanho, curto e ligeiramente revolto, daqueles cabelos que apetece passar a mão e acariciar.
Apanhou-me em flagrante! Sorri e desviei o olhar. Corei.
Pelo canto do olho, reparei que também sorria... com um riso malandro, de quem sabe que está a ser observado e está, no íntimo, a gostar.
Saímos na mesma paragem. Vi-o a abrir a porta do prédio. Ficou surpreendido quando me viu passar por ele. Sorriu novamente.

Reencontrei o rapaz do 16, num dia ensolarado de Janeiro.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Eles... e eu

...E um para pensar