Addicted To Love

Viciados em chocolate, viciados em vinho, viciados em coca, viciados em televisão, viciados em sexo. Viciados no amor. Nos tempos áridos da pós-modernidade (ou modernidade tardia, como ironicamente lhe chama Giddens), envolvemo-nos no deserto cibernético, mergulhamos no sexo sem rosto, nas dietas furiosas, no trabalho compulsivo. E, mais obsessivamente que os trovadores da Idade Média, ficámos reféns do amor. Não desse amor vivido, dessas relações construídas, mas do amor egoísta, exigente, físico, destrutivo.
Segundo especialistas britânicos, há cada vez mais pessoas (homens e mulheres) que criaram uma dependência das relações amorosas. Precisam de ter alguém do seu lado. Procuram colmatar a necessidade intrínseca da presença de alguém. Normalmente não interessa quem é essa pessoa. Desde que seja.
Dizem também esses especialistas (que já criaram clínicas de apoio para os co-dependentes) que os viciados no amor procuram nos relacionamentos o mesmo padrão de pessoa. Geralmente o mesmo tipo de pessoa que, no passado, lhes deixou uma marca profunda (e negativa).
Os co-dependentes amam demais, mas não amam bem. Amam mal e não se amam. Na ânsia de controlar e absorver a outra pessoa, anulam a sua personalidade, chegam a mudar comportamentos e aparência, prejudicam a sua carreira. Tudo por causa da insegurança, dos ciúmes (na maior parte da vezes infundados). Esta patologia não é característica de indivíduos perturbados. A maior parte dos casos são homens e mulheres inteligentes, com boas carreiras profissionais, alguns deles casados e com filhos.
Há todo um processo de objectificação do outro, produto (digo eu) de uma sociedade onde um individualismo hedonista exacerbado nos faz olhar para tudo (e todos) como posses a adquirir. E, por outro lado, nos faz querer atingir o intangível no que toca a sentimentos.
A procura de um amor absoluto (e irrealista... os contos de fada só existem nos livros), propaganda dos filmes de Hollywood e das novelas da Globo, é uma falsa viagem. Uma caminhada sem fim. Na busca de uma experiência totalizante, o mais provável é acabarmos sem nada. E o maior perigo é terminarmos a nossa busca e apercebermo-nos que nos perdemos pelo caminho.
Haja mais procura interior, mais viagem dentro de nós mesmos. É essencial que percebamos quem somos, porque agimos da forma que agimos. Penso que é possível por a funcionar a complicada engrenagem das relações interpessoais se nos dispusermos a alguns momentos diários de auto-crítica e reflexão.
Custa bastante... mas poupa-se em psiquiatras.

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