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Pedro Paixão

Por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher. Por detrás de uma grande mulher está sempre outra mulher. Não tão grande, não tão bela, não tão apelativa. Outra mulher.
Ser essa outra mulher é ser a menos bela, a menos apelativa. A outra mulher é o apoio da mulher bela, é uma espécie de dama de companhia. Acontece que, por vezes, a mulher bela até admira e inveja a outra mulher, mas relega-a para segundo plano quando exibe as suas penas coloridas de fêmea no cio. E a ciência evolutiva já provou que o macho escolher sempre o espécime mais apetecível, a leoa mais possante, a gata mais dengosa, a serpente mais hipnotizante.
Haverá homens que, no seu íntimo, preferirão a outra mulher. Mas esses são os homens que não têm medo de se apaixonar, que querem algo mais que um adorno, um autómato de cabeleira que concorde com tudo o que disserem, quer lhes sirva cervejas e lhes abra as pernas. Por isso é que os homens (bem) casados escolhem ter uma amante. Uma outra mulher que lhes faz frente, que é menos vistosa mas mais inteligente, mais fascinante. Fascinante demais para a exibirem como sua. Complicada demais para a pedirem em casamento e serem felizes com ela.
As mulheres bonitas são infinitamente mais fáceis de entender que as outras. Talvez por serem mais básicas criaram mecanismos de estratégia e defesa de território que as outras não possuem. Uma mulher bonita é, por regra, uma mulher esperta. E por ‘esperta’ quero dizer que possui as manhas necessárias para prender um homem e para o largar. Quando e como quiser.
Ser a outra mulher é ser a amiga, a confidente. Aquela que faz conversa durante um encontro de pré-engate, aquela que troca os números de telemóvel. A que marca encontros, que dá boleia, que atura as idas às compras da outra, os chiliques, as súbitas faltas de auto-confiança (Ai, estou tão gorda!! – onde é que eu já ouvi isto?!), que serve de ombro amigo aos exs., que limpa lágrimas e finge sorrisos.
Rapidamente se desfazem estas amizades de conveniência. As belas absorvem a energia das outras para poderem sobreviver. Sugam-lhes o sangue, deixando-as secas e moribundas, e avançam para a próxima. Porque haverá sempre uma próxima.

Procuro em mim a mulher que nunca fui. Nunca fui mulher, nem mesmo quando eles tentaram fazer-me sentir que o era. Nem mesmo assim.
Sou um ser híbrido em busca de nada, em busca de tudo. Torno-me transparente e desvaneço nesta indefinição. Quem me dera ser fêmea. Ou macho.

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