Luz de amor




Estava destinado.

Dos quase nove anos que vivo em Lisboa, cinco foram passados na cercania do Estádio da Luz. De ano para ano, fui-me aproximando, sem qualquer intenção consciente, da gigante bolacha abobadada de betão e aço que, época após época, acolhe esperanças encarnadas. Não deixa de ser curioso que eu, nascida e criada a 50 metros de um outro estádio (da União Desportiva Oliverense), tenha vindo parar, com os tropeções habituais que a vida dá, aqui. Precisamente aqui onde, semana sim, semana não, desfilam cachecóis e barrigas pintalgadas a sangue e alvo, onde se desfraldam bandeiras e se comem bifanas, onde o cheiro acre da cerveja derramada no chão se mistura no ar com o fumo de cigarros nervosos e de prognósticos esperançosos.

Onde a turba se junta e grita, onde o pobre o rico torcem pelos mesmos onze, onde um homem carrancudo, teimoso e despenteado fez, este ano, esquecer que o país é, de facto, pobre, parado e cinzento. Luz é sinónimo de amor. Colectivo, que sou benfiquista, e individual, que sou mulher e me aconteceu, por acaso do destino, apaixonar-me quase sempre por benfiquistas ferrenhos. Uns mais optimistas, outros mais cépticos, alguns empedernidos de pessimismo mesmo quando os golos se multiplicam na verdura do relvado. Todos os homens importantes da minha vida torcem por este clube. O meu pai (típico benfiquista descrente, sempre à espera que a equipa perca, mas secretamente desejando a vitória) e os outros... que sabem quem são.

Um dos encontros mais deliciosos e inesquecíveis que tive aconteceu precisamente no Estádio da Luz. Benfica-Celtic, Novembro de 2006, algum frio e muita gente. E um primeiro beijo, inesperado e apaixonado. Visto à distância, parece palerma, mas na altura, fez todo o sentido... Éramos benfiquistas, gostávamos um do outro... Porque não?

Há coisas que estão destinadas a acontecer. Como daqui a poucas semanas gritarmos, finalmente, após meses de nervos, ansiedade e incredulidade, VITÓRIA. Com a graça de nosso senhor, Jorge Jesus, venceremos.

Está destinado.

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