Luz de amor

Estava destinado. Dos quase nove anos que vivo em Lisboa, cinco foram passados na cercania do Estádio da Luz. De ano para ano, fui-me aproximando, sem qualquer intenção consciente, da gigante bolacha abobadada de betão e aço que, época após época, acolhe esperanças encarnadas. Não deixa de ser curioso que eu, nascida e criada a 50 metros de um outro estádio (da União Desportiva Oliverense), tenha vindo parar, com os tropeções habituais que a vida dá, aqui. Precisamente aqui onde, semana sim, semana não, desfilam cachecóis e barrigas pintalgadas a sangue e alvo, onde se desfraldam bandeiras e se comem bifanas, onde o cheiro acre da cerveja derramada no chão se mistura no ar com o fumo de cigarros nervosos e de prognósticos esperançosos. Onde a turba se junta e grita, onde o pobre o rico torcem pelos mesmos onze, onde um homem carrancudo, teimoso e despenteado fez, este ano, esquecer que o país é, de facto, pobre, parado e cinzento. Luz é sinónimo de amor. Colectivo, que sou benfiquista,...