A "conjugalidade"
“I’m a looser, baby, so why don't you kill me?”
O gene da conjugalidade não nasceu comigo. Essa qualidade, intrínseca em tantas pessoas, de conseguir ser 50% de um duo, não existe em mim. Quando em situações de dito “namoro”, vejo-me sempre fora de mim mesma, qual espectadora: “quem é aquele trambolho ao lado do x?”; “O que é que o y está a fazer com aquilo?”. O “trambolho” e o “aquilo” sou eu, não por me considerar como tal, mas pela minha total incapacidade de aceitar, sem qualquer conotação perjorativa, ser “a namorada de”. Esta deficiência provoca em mim uma demanda furiosa pela “normalidade”, ou aquilo que percepciono do exterior como sendo “normal”. Gostar de alguém, ser apreciado, o xeque-mate inicial que pões as coisas a rolarem, a descoberta, o desafio, a desilusão, a negociação, a rotina e, por fim, a normalidade.
Mas quando se é uma anormal e se pensa demasiado nestas coisas – como, por exemplo, palavrões como “conjugalidade” – é certo e sabido que as coisas vão, mais dia menos dia, dar para o torto. Porque nenhum gajo está para aturar tipas neuróticas e inseguras, porque dá demasiado trabalho pensar, porque nos tornámos criaturas cínicas e auto-centradas. Porque nos enfiaram na cabeça, à força de lermos “Os Maias”, “Romeu e Julieta” e afins, que o amor tinha que ser trágico e doloroso. E será que não é? O que é isso da conjugalidade senão o medo de estarmos sós?
Esse medo é legítimo, e com o passar dos anos ainda mais. Mas eu não aceito, não consigo aceitar, o meio-termo. O “morninho”, o “aconchego”, o “bem bom”. Eu queria a normalidade, sim, mas com um homem que eu pudesse admirar e que me admirasse. Não queria que fosse tão difícil. Porque é que é fácil para uns e tão difícil para outros? Onde é que eu falhei? Que aberração da natureza sou eu para não conseguir algo tão trivial como a “manutenção”?
Curiosa (e cruel) comparação que resume, futebolisticamente, a minha personalidade: “Tu és como o Aimar. Entras, brilhas e tal, mas ao intervalo estás de rastos e o Jesus já sabe que, na segunda parte, vai ter que meter o Carlos Martins”.
Who’s the biggest looser?
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