A rejeição… a rejeição, pá, é uma cena fodida. E é tramada especialmente naquelas situações em que não encontramos uma razão específica para termos levado uma tampa. Desta vez, decidi descer do meu pedestal reaccionário para confessar que… estou confusa. O caso sucedeu há alguns dias e ainda não consegui perceber o que aconteceu. Escrevo, não porque queira conselhos, mas porque estou perplexa com o sucedido.
Conheci o senhor X (chamemos-lhe assim) há um par de meses. Então… então… esperem… Não é assim que eu quero contar a história. Não quero expor os factos ‘tal e qual como eles aconteceram’. Porque eu não sei o que aconteceu, nem como, nem quando. Muito menos porquê. Sei que mergulhei de cabeça numa aventura com um quase desconhecido. Sei que me entreguei, desinteressada, voluntariosa e apaixonada. Sei que me arrependi horas depois de ter começado. O que não sei, o que não percebo… O que eu queria mesmo era que ele tivesse dito ‘pá, miúda, és fixe, mas não te curto. Não me atrais, não te desejo, vai lá para casa, deixa-me estar em paz com os meus pensamentos’. Mas ele nada disse. Limitou-se a olhar para mim e, sozinhos, caminhámos em silêncio. Dormimos em silêncio e comemos em silêncio. E viajámos também. Uma longa, dura e penosa viagem, num cenário de conto de fadas que se tornou de comédia negra. Durante a curta jornada em que as nossas vidas se cruzaram, esforcei-me por ser simpática. Às tantas, apercebi-me da fatal conjuntura. Aquele ser tinha decidido irromper no meu caos quotidiano pura e simplesmente para me contrariar. Tudo o que disse, sugeri, fiz ou deixei de fazer estava errado. Não julgo que o fez por diversão ou intuito maldoso. Fez porque tinha (tem?) uma necessidade profunda, inconsciente, triste de maltratar. De projectar nos outros o seu desconforto interior. Não consegui, por muito que me tenha esforçado, perscrutar nada naqueles olhos azuis. E nesse momento, em que me concentrei na sua íris cor de cobalto, fui invadida por uma confusão de medo, angústia e frustração. Por mais que tentasse olhar, não via nada. Ele tinha os olhos mais sujos, mais baços, mais vazios, que eu alguma vez encontrara. Não, não havia nada ali. A boca botava frases, lamentos do passado, recordações melancólicas de tempos idos, advertências e queixumes. Mas os olhos, nada. Um vidro azul, oco. Vazio.
Fugi…


A fêmea, por ter sido rejeitada, encolhe-se, o orgulho ferido, o ego maltratado. A mulher, por ter subido à tona antes de se afogar, afasta-se, recolhe-se e cuida de si mesma.



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Comentários

Anónimo disse…
Vivendo e aprendendo... Se não deu certo é porque não era suposto. É uma frase feita, mas faz cada vez mais sentido, amiga. Continua a acreditar... mas com cautelas. Um dia o teu sentido de humor, único, a tua paixão pela vida e a intensidade com que sentes (entre outras qualidades)vão ser recompensadas...
Micaela Neves disse…
O que não nos mata, torna-nos mais fortes. Não é novidade, mas faz sempre sentido. Tou aqui.
Anónimo disse…
A rejeição é muito fodida. É um sentimento excessivamente desumano, provoca angustia, revolta, sofrimento, e tristeza. Quando não há aparentemente uma razão, quando não se encontra uma explicação, afundam-nos a auto estima e o ego. Deixamos de ser nos proprios, e somos um traste de humano em que tudo deixa de fazer sentido, nesse momento até os pombos nos cagam em cima. Mas quando aos poucos comecas a ver a luz no fundo do tunel, a olhar a tua volta, a tomar consciencia das coisas boas da vida, das pequenas alegrias que nos rodeiam, que acontecem no dia a dia, quando comecas a sorrir e a encontrar a tua paz, tranquilidade, percebes que amar ou apaixonar é isso mesmo, cair vezes sem conta, e que quando te comecas a levantar, a erguer dessa dor, entendes que no fundo justifica cada momento, cada esforço, cada palavra, cada lagrima, dor empenho e suspiro que soltaste por gostares e te entregares. No fundo tiveste a maior lição que a vida nos pode dar, que nem sempre podemos vencer, mas que isso tambem nao faz de nós derrotados. Antes ser uma pessoa louca e apaixonada pela vida e o mundo sem medo de querer voar alto, mesmo que não saibas aterrar. Love is the drug!

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