Livre

Dispo o vestido, tiro a maquilhagem. Chega de decotes, de personagens.
Já não estou apaixonada. Passou. Já não tenho de fingir ser quem não sou, dizer o que não penso, sorrir-te, satisfazer-te, agradar-te. Eu não era eu, era-o por ti. Esta sou eu: irascível, ruidosa, instável, de chinelos, roupa larga, cabelo revolto, fria, hesitante, um turbilhão.
Mudo de canal. Abaixo o rock, viva a Pop! Já não escondo o meu sotaque, as minhas manias, o meu ciúme. Não me fazes tremer, não me quero esconder, não anseio por ti.
Falo do que me interessa, e o que me interessa não é isso. Não é esse hedonismo, esse contentamento mascarado de estabilidade, essa rebeldia supérflua. Eu ainda não sou assim, e ainda bem. Não escutarei as tuas lições, as tuas críticas, porque a idade não é um posto e eu quero viver por mim.
Já não há encanto no reencontro, não há calor nos beijos, não há ânsia na partida. Apenas uma leve tristeza por já não gostar de ti.
Baixei os braços, encolhi os ombros, esta nunca foi a minha luta. Respiro fundo e ouço, finalmente, a minha voz.
Sou livre.

Comentários

Anónimo disse…
A incerteza marcou lugar; a noite apareceu. A Lua incendiou-se; ...onde estavas quando falei de amor? Acendias um cigarro; perdão cigarrilha... um bafo quente descia sobre nós; mas estava frio, não estava ou já não te recordas? sobre a estante encimava-se as estrofes deste caso..Lembras-te quando rumamos naquele fim de tarde á Figueira da Foz? tu muito calada, pensativa manifestamente ausente ...lembro-me tão bem do que te disse quando avistei o mar: " um mar pleno á nossa espera a consumação da nossa existência!" (...)

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