Papel, papel, papel. Palavras. Todos os dias as mesmas palavras, os mesmos rostos, adjectivos repetidos, fórmulas gastas. As mesmas construções frásicas, o mesmo modelo de pensamento, esta estrutura, maquinaria infernal na qual, voluntariamente, me inseri, e da qual (sei) nunca mais sairei. As cores berrantes são como um maestro, um deus ex machina… e eu deixo-me canibalizar. E canibalizo. Com os olhos, com as mãos, a boca. As mãos no teclado, botões, press play, recording… Fuck! Fuck them all. Já não quero ser diferente. Quero passar despercebida. A dor de me fazer notar é infinitamente maior do que o silêncio apaziguador da monotonia. Deixo-me levar. Não quero nada que não seja meu. Este é o meu lugar. É isto que mereço. Mas… Ele. Ele, que transforma os meus dias, ele, que põe ordem, cor, luz, nesta resma de folhas rabiscadas que é o meu coração. Amo-o… mas nunca lho direi. Só eu sei como, num insípido “gosto de ti”, digo muito mais do que é possível expressar. Nem um “amo-te” chegar...