Eles... e eu

“ (…) Despeço-me do que mais quero,
só para não te ouvir dizer que as coisas vão mudar amanhã”
Susana Félix, “Flutuo”
Eles… e eu. Enfiada, voluntariamente, a um canto. Se me considero diferente? Sim, sou arrogante e presunçosa o suficiente para isso! Se calhar, não sou assim tão diferente. Se calhar, também quero o que eles têm (e eu não). Quero o namorado, ali, certinho, garantido. Giro, mas não demasiado. Que me ofereça flores, que diga que sou bonita e me fite com olhos de carneiro mal morto. Quero o carro, as calças Levi’s (38, no máximo… queria tanto ser uma miúda normal!), as mamas maiores, o rabo mais pequeno. Os fins-de-semana românticos (turismo rural no Alentejo ou no Gerês, muito in!), dormir aconchegadinhos durante a semana (sexo moderado, porque no dia seguinte há trabalho), conversar sobre tudo e sobre nada, passear no shopping, ir para casa às duas da manhã, menear reprovadoramente a cabeça perante solteironas insaciáveis… Eu quero isso tudo… porque não o tenho. É tudo uma questão de posse, entendem? Eu quero, porque não tenho, porque não posso ter, porque não tenho as capacidades sociais, afectivas e emocionais para ter uma relação e-s-t-á-v-e-l (bela palavra. “Séria” também soa bem). Digo-me diferente, que sim, oh sim! , adoro engates de uma noite, porque é moderno, muito séc. XXI, trendy, chique, urbano e decadente…. Mas, na verdade, isso é tudo uma canseira e, no final da noite, quem dorme sozinha sou eu, não eles.

Para dizer a verdade, para ser completa e cruelmente honesta… morro de medo. De ser rejeitada, de não estar à altura, de não ser suficiente. Como não fui. Medo de não estar a par, de não saber, de falar demasiado, de assustar. Mas, fatalmente, assusto. Não quero saber… não quero mudar. Não sei ser de outra maneira. Posso tentar moderar-me. Posso dizer “fazer amor”, em vez de “foder”. Posso não te pedir para me puxares o cabelo, posso olhar-te de outra maneira. Posso falar mais baixo, comer menos, ser mais dócil… faço o que for preciso.
Mas sinto, aqui só entre nós, que não ia valer a pena.

Eventualmente, o pano há-de ser corrido. As luzes apagar-se-ão, a sala ficará vazia. Mas, enquanto o nosso número durar, enquanto formos dois arlequins destrambelhados, rindo do mundo (e, no fundo, de nós mesmos) … enfim, enquanto houvermos… como diria o meu querido Jorge Palma… “a gente vai continuar”…

Comentários

Stranger disse…
já que tás numa de música:

Há músicas que parecem que são escritas para nós, ou para momentos da nossa vida.

Variações

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem, quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde eu não estou

Bjinho

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