Em Carne Viva
É um ferro em brasa que marca a minha carne com a tua marca. Carne viva, desejo vivo, estéril, seco. Uma crosta por arrancar, uma ferida, um mal menor. És apenas vontade da (minha) carne, porque tudo o resto se esvaiu. Já não trazes luz no teu sorriso, o mar dos teus olhos é feio, profundo e hostil. Nem o ouro de fogo do teu cabelo, nem as tuas mãos, nem a tua boca generosa. Nada me faz. Nada é nada. Já não vejo a tua alma no teu corpo, já não ouço a tua voz. Já não sou eu, mulher, pessoa, que te quer. Eu sou carne, à espera. Só. Aguarda, a minha carne. Quero enterrar a minha boca na tua, nessa superfície carnuda e húmida, provar de novo (uma última vez) a tua saliva, a textura da tua língua revolta. Lutar contigo, boca na boca.
Sei que quero, porque não sinto. Já não te sinto. Eu perdi a vergonha porque já não te desejo com esperança. Quando vi quem eras, uma ordem lógica perdeu-se e mergulhei no caos de frases desconexas. Nada fez sentido. Por isso, já não me envergonho, não há culpa, mágoa, desilusão. Apenas essa tristeza franca de saber que não sei quem fomos para nós.
Eu não sei quem és, tu não sabes quem eu sou.
Qualquer imagem que possas reter é um produto, uma ficção, uma construção feita às cegas.
Perdi a vergonha de te cobiçar. A minha alma luminosa, a minha boa-vontade, o meu amor… tudo está ausente.
Entra em mim, és bem-vindo. Nada mais encontrarás do que a minha solícita carne. Doce abandono, não me deixes… mais uma vez, o fumo acre, boca, saliva, mãos, carne, sangue. Tudo.
Sei que quero, porque não sinto. Já não te sinto. Eu perdi a vergonha porque já não te desejo com esperança. Quando vi quem eras, uma ordem lógica perdeu-se e mergulhei no caos de frases desconexas. Nada fez sentido. Por isso, já não me envergonho, não há culpa, mágoa, desilusão. Apenas essa tristeza franca de saber que não sei quem fomos para nós.
Eu não sei quem és, tu não sabes quem eu sou.
Qualquer imagem que possas reter é um produto, uma ficção, uma construção feita às cegas.
Perdi a vergonha de te cobiçar. A minha alma luminosa, a minha boa-vontade, o meu amor… tudo está ausente.
Entra em mim, és bem-vindo. Nada mais encontrarás do que a minha solícita carne. Doce abandono, não me deixes… mais uma vez, o fumo acre, boca, saliva, mãos, carne, sangue. Tudo.
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