"My Soul Has Grown Deep Like The Rivers"

Não sei se esta ressaca vai passar. Duvido que, num futuro próximo, consiga encarar um homem sem desconfiança, sem pensar numa traição, numa mentira. Mas verdade seja dita: duvido que exista algum homem tão inseguro, tão mentiroso, tão cobarde e incapaz como ele era. Não pode! Mesmo que haja, será sempre diferente, porque será um outro homem, uma outra situação. Venham eles! Venham eles, os homens, venham os sobressaltos, venham os fascínios, as dores de cabeça, os telefonemas. Não queria problemas mas, já que os atraio, que sejam novos. Que sejam outros.
Após uma quantidade abusiva de horas fechada naquela selva de aço e betão,olhei-me de fora, em câmara lenta e pensei... "Já está! Já te deixaste apanhar!". Não, não foi do cansaço, não foi da fragilidade natural após tantas horas sem dormir. Nem sequer dos meses "a seco". Foi porque tinha que ser. E, mesmo assim, continuo sem perceber esta minha atracção pelo abismo, por estes homens que, ao primeiro olhar, passam despercebidos. É o meu instinto maternal por estes desarranjados mentais, por estes rapazes-a-brincar-aos-homens, por estes miúdos travessos. Há uma certeza ingénua, eu acredito que vou conseguir consertá-los. Quero um Pinóquio, para o transformar num menino de verdade!
Músculos, carros, dinheiro, fatos elegantes, lábia... nada disso me fascina. Não tenho paciência para homens perfeitos, aborrecem-me de morte. Fico (fiquei... bastou um olhar de relance, quando ainda nem sequer estava bem acordada) desarmada com aquele lago escuro, profundo, aquela tormenta toda num arisco par de olhos. Apetecia-me logo mergulhar naquela tempestade, naufragar logo ali, deixar-me levar por essa torrente fria e quente. Deixa-me ir contigo, conta-me todos os teus anseios... fala-me dela, fala-me da que te marcou a alma (há sempre uma que os marcou), fala-me da sua beleza, da sua perfeição. Fala-me dela e eu digo-te quem és. Conta-me o passado e eu dito-te o futuro.

Gosto de um bom desafio. Eu, que não tenho jeito nenhum para palavras-cruzadas e adormeço em frente a um sodoku, aprecio um homem desmontado, feito em cacos. Muno-me logo da minha super-cola (os meus cozinhados, as boas palavras, a boa cama, muita compreensão que não é mais do que um grito desesperado de ajuda) e das minhas ferramentas... Verdadeira artista de bricolage humana!

Não me deixes chegar a ti. Deixa-me chegar a ti. Quero apagar a dor com uma nova dor. Quero um ser novo, um homem em pedaços, para devorar. Quero parte de mim, partir-me para ti. Não quero outro. Não quero os outros que me desejam, porque me desejam. Quero-te, porque me desdenhas e me atrais, neste jogo de sedução que não o é. Quero-te, porque não és indicado para mim.
Vou ser severamente castigada pelo meu auto-flagelo. Espero bem que sim, e que seja breve!

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