Dispo o vestido, tiro a maquilhagem. Chega de decotes, de personagens. Já não estou apaixonada. Passou. Já não tenho de fingir ser quem não sou, dizer o que não penso, sorrir-te, satisfazer-te, agradar-te. Eu não era eu, era-o por ti. Esta sou eu: irascível, ruidosa, instável, de chinelos, roupa larga, cabelo revolto, fria, hesitante, um turbilhão. Mudo de canal. Abaixo o rock, viva a Pop! Já não escondo o meu sotaque, as minhas manias, o meu ciúme. Não me fazes tremer, não me quero esconder, não anseio por ti. Falo do que me interessa, e o que me interessa não é isso. Não é esse hedonismo, esse contentamento mascarado de estabilidade, essa rebeldia supérflua. Eu ainda não sou assim, e ainda bem. Não escutarei as tuas lições, as tuas críticas, porque a idade não é um posto e eu quero viver por mim. Já não há encanto no reencontro, não há calor nos beijos, não há ânsia na partida. Apenas uma leve tristeza por já não gostar de ti. Baixei os braços, encolhi os ombros, esta nunca foi a min...