O mito diz que Ulisses navegou durante dez anos no Mediterrâneo, enfrentando inúmeras provações e perigos, apenas para poder voltar, finalmente, a Ítaca. E a Penélope. Ítaca é o destino final, mas é também o lugar do eterno retorno. Aquele limbo, mágico e perturbador, onde retornamos, irremediavelmente. Se a vida de uns é uma Odisseia (onde tudo começa, se desenvolve e termina), a de outros é uma Ilíada (uma história onde os acontecimentos se precipitam em espiral). Ilíada, então. Regresso a Ítaca. Nunca cá estive, mas tenho a estranha sensação de já me ter encontrado aqui. O céu abre-se, furioso, desabando em bátegas de água. Fujo do mar, ouço-o rugir, cada vez mais imperceptivelmente. O mar fica para trás. Refugio-me em Ítaca, sempre nova, com um travo amargo de destino. Tudo é branco, alvo, níveo. Madeira e chuva. Beija-me. Não perde tempo (não há tempo a perder). Tudo é previsível. Só não esperava estes lábios invulgarmente macios e carnudos (dois morangos maduros na minha frágil b...