Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2006

Em Carne Viva

É um ferro em brasa que marca a minha carne com a tua marca. Carne viva, desejo vivo, estéril, seco. Uma crosta por arrancar, uma ferida, um mal menor. És apenas vontade da (minha) carne, porque tudo o resto se esvaiu. Já não trazes luz no teu sorriso, o mar dos teus olhos é feio, profundo e hostil. Nem o ouro de fogo do teu cabelo, nem as tuas mãos, nem a tua boca generosa. Nada me faz. Nada é nada. Já não vejo a tua alma no teu corpo, já não ouço a tua voz. Já não sou eu, mulher, pessoa, que te quer. Eu sou carne, à espera. Só. Aguarda, a minha carne. Quero enterrar a minha boca na tua, nessa superfície carnuda e húmida, provar de novo (uma última vez) a tua saliva, a textura da tua língua revolta. Lutar contigo, boca na boca. Sei que quero, porque não sinto. Já não te sinto. Eu perdi a vergonha porque já não te desejo com esperança. Quando vi quem eras, uma ordem lógica perdeu-se e mergulhei no caos de frases desconexas. Nada fez sentido. Por isso, já não me envergonho, não há culpa...